quinta-feira, 8 de março de 2012

JOÃO W. NERY CONTA AS MEMÓRIAS DE UM TRANSEXUAL 30 ANOS DEPOIS em VIAGEM SOLITÁRIA

“Em 1977, João Nery foi pioneiro ao se tornar a primeira mulher do Brasil a mudar de sexo. Mais de 30 anos depois, ele conta como é a vida de quem é estrangeiro do próprio corpo.” Assim começa Millos Kaiser sua reportagem “Corpo Estranho”, que é reproduzida no livro. Em plena ditadura militar, o ex-psicólogo usou o mesmo recurso dos militantes clandestinos: a partir de uma certidão de nascimento tirada no interior, com nome masculino, tornou-se um homem “legal”, mas sem currículo. Foi ser motorista de táxi.
“Ao contar sua infância, sua juventude, ao descrever suas relações com pais, irmãs, amigos da pracinha, passageiros de seu táxi, ao falar de seus sentimentos e pensamentos, cria um universo capaz de dobrar o mais resistente dos leitores. Em seu texto este homem está inteiro, acima das limitações impostas pela cirurgia, das cicatrizes deixadas pela experiência pioneira e, por isso mesmo, mais agudamente solitária. O texto deste João é fiador de seu projeto de vida.”
O entusiasmo do antropólogo Helio Silva, um dos pioneiros da pesquisa sobre transidentidades no Brasil – ainda que esse conceito seja recente – revela a importância do relato do autor, ele próprio um profissional da saúde mental, ajudando a derrubar o velho preconceito que via o transexualismo como transtorno de personalidade, uma doença mental. Simone Ávila, pesquisadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS/UFSC), introduz o conceito de transhomem, para falar de João Nery.
                Testemunho, drama, informação de primeira mão: o livro de João Nery interessa aos estudiosos, aos curiosos, ou simplesmente ao leitor interessado num bom texto sobre uma história verdadeira.
Sobre o autor
João W. Nery publicou “Erro de Pessoa: João ou Joana?” em 1984, pela Record, graças ao empenho pessoal de Ruth e Antonio Houaiss, que fez o prefácio, terminando assim: “Leiam e humanizem-se.”
O “Acerto de Pessoa, Memórias de um Transexual Trinta Anos Depois” é uma releitura do livro anterior e a sua continuação, com a grande revelação: João torna-se pai, ainda que não biológico, de um filho que hoje está com 24 anos, formando-se em Engenharia e morando com a namorada. É o grande acerto de João, não importa o gênero.
O autor nasceu em 1950 no Rio de Janeiro, numa família com princípios rígidos mas muito amorosa. Nos agradecimentos do livro, lá está a referência aos pais, que não o impediram de ser o que é hoje.
Ao perder o diploma de psicólogo, por causa da identidade irregular, trabalhou numa usina de concreto, foi artesão, terapeuta corporal, técnico em computador, professor universitário substituto. Sempre escreveu poesias, algumas delas transcritas neste livro.
A recente conquista do espaço de cidadania pelas transidentidades permite ao leitor em geral conhecer mais de perto o drama vivido pelos indivíduos que não se enquadram nas antigas e rígidas categorias que a sociedade criou.
“Leiam e humanizem-se”.

“João Nery é uma referência nacional não só por ter sido o primeiro transhomem [operado] do Brasil, mas também por sua generosidade e coragem em compartilhar sua experiência singular.”
(Simone Ávila, pesquisadora).
A minha primeira impressão é que João não nasceu mulher e quis virar homem. Nada disso. João nasceu homem, mas preso num corpo de mulher.
(Millos Kaiser, jornalista).
“Este é um livro sobre integridade, um valor muito caro à sociedade de João. Devolve ao leitor o paradoxo da relação entre integridade e mutilação: chegar à mutilação em nome da integridade.”
(Hélio Silva, antropólogo).
“‘Acertar a pessoa’ é como acertar uma roupa para que ela caiba melhor. Só que, nesse caso, a roupa é o próprio corpo. A impressão que fica do livro é que todos nós vamos nos acertando aos poucos, não importa se trans, homo ou hétero. Acho que por isso a história é tão interessante.”
(Julia Lugon, designer).

Maiores informações:

Og Maron. Arquivo de Internet .

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